"O mais provável é que não volte a ver outro Watergate na minha vida"
Bob Woodward recebeu, em 1973, o prémio Pulitzer por ter tornado público o escândalo de Watergate. Em consequência da decoberta da espionagem que Nixon fez ao quartel-general da oposição democrática (o edifício com o nome pelo qual ficou conhecido este caso: Watergate), o presidente norte-americano demitiu-se. Este jornalista norte-americano, que tem formação em Direito, continua a trabalhar no jornal que lhe deu a fama global, o The Washington Post apesar de casado com uma redactora do The New Yorker. Os livros que escreve são um sucesso de vendas. Estivemos à conversa com Bob Woodward, que afirma que "o bom jornalismo, sobretudo o jornalismo de investigação que descobre o que alguns não querem que seja descoberto, continua a ser necessário e continua a ser praticado", embora considere que se podia fazer mais jornalismo de investigação.
Afirmando que o instrumento do jornalismo de investigação é "paciência, paciência, paciência", Bob Woodward considera que:
-O jornalismo deve ser medido pela qualidade da informação que oferece, não pelo dramatismo ou pela pirotecnia com que o tempera. Mas não vou juntar-me ao coro de lamentações. Continua a haver muito bom jornalismo. E o público, que é inteligente, sabe distinguir o bom do menos bom.
Em relação aos escândalos políticos, Woodward considera que "os Presidentes irritam-se, ficam loucos, gritam e barafustam", quando "o escândalo é algo que, como um furacão, uma guerra ou uma crise económica, deve e pode ser gerido", bastando "elaborarem uma estratégia para o enfrentar". Considera que o principal erro de Nixon foi:
-Entrincheirar-se no desmentido e numa operação maciça de encobrimento. Teria podido salvar-se se, a meio do escândalo, tivesse reconhecido a culpa e pedido perdão. O povo norte-americano tem uma grande capacidade para perdoar, mas exige uma confissão dos pecados.Sobre o caso Watergate, Woodward adianta que:
-O nosso (referindo-se também a Carl Bernstein) papel em Watergate foi mitificado até níveis absurdos. Nós não derrubámos Nixon. As nossas histórias fizeram parte de uma longa e complexa cadeia de acontecimentos que durou anos. Por isso digo que o mais provável é que não volte a ver outro Watergate na minha vida.Bob Woodward considera Bill Clinton "uma mistura muito particular de debilidades e pontos fortes".
O seu último livro, Maestro, é sobre Alan Greenspan, o presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos. Questionado por que motivo está tão interessado pela figura de Greenspan, Bob Woodward afirma que:
- Adoptei o ponto de vista do jornalista e perguntei a mim próprio: que aconteceu de mais imporante nos Estados Unidos nos últimos dez anos? Claro que foi a expansão económica. Então comecei a olhar para isso e disse: OK, por que tivemos uma expansão económica? E verifiquei que os caminhos mais importantes conduziam a Greenspan, que ele não só regula as taxas de juro da Reserva Federal, como actua nos bastidores, como actor principal, nas crises internacionais(...). Com muita frequência, Greenspan tem uma estratégia, faz um pacto, é o principal jogador e o principal pensador nos grandes temas económicos norte-americanos e internacionais.Bob Woodward conclui afirmando que "o cinismo é fatal neste ofício [jornalismo], mas uma dose de cepticismo não só é saudável, como nos vem inevitavelmente com o tempo".
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