quinta-feira, janeiro 22, 2004

(Pré-Teste de Imprensa)

“Para os políticos somos apenas números!” – diz um desempregado que vive em plena miséria no Porto



José Almeida é um chefe de uma numerosa família portuense. Vive nas Fontainhas, um local onde as condições habitacionais são precárias e a pobreza é uma companheira do dia-a-dia. Em conversa, descobrimos como o drama do desemprego está a afectar a vida dos portugueses. Nesta altura, os casos humanos são bem mais importantes do que os números.

José Almeida, quantos filhos tem?

Bem… Tenho 9 filhos a viver comigo agora. Mais outros 3 da minha ex-mulher, que vivem com ela.

Então em sua casa vivem 11 pessoas, certo?
Não! Além dos meus filhos e da minha mulher, vive ainda lá em casa a minha sogra.

Só por curiosidade, quantas divisões tem a sua casa?
Tem 2 quartos, a cozinha, uma casa de banho e a sala. Claro que o espaço não chega para todos, como pode imaginar! Eu e a minha mulher dormimos num quarto, mais os nossos 2 filhos mais novos. No outro quarto dorme a minha sogra e os meus 3 filhos mais velhos. Os outros 4 dormem na sala, às vezes no chão!

Segundo sei, está desempregado desde Novembro… não é?

Sim, a fábrica onde eu trabalhava fechou em Outubro. Parece que os trabalhadores portugueses dão prejuízo às multinacionais! A minha preferiu mudar-se lá para a Ucrânia… Como eu, ficaram mais de 70 pessoas que já lá trabalhavam há 8 anos e meio… Ando à procura de outro emprego desde o dia em que fui despedido, mas ainda não encontrei nada! O Governo diz que os ucranianos não vêm tirar trabalho aos portugueses, mas aquilo que se passa não é bem isso… Eu quero trabalhar e não encontro nada!

Como consegue viver sem ordenado? Quais são os rendimentos da sua família?
Neste momento, vivemos com muito pouco dinheiro! A minha mulher é empregada de limpeza no Hospital de Santo António… ganha o salário mínimo. A minha sogra tem uma reforma de trinta e tal contos. E a minha filha mais velha já trabalha na padaria lá da zona. Eu tou com um subsídio de desemprego de 60 contos. No total, nem aos 20 contos por pessoa chega! E claro que temos as contas todas para pagar!

Conhece muitas pessoas no mesmo estado que o seu?

Conheço! Lá no bairro em quase todas as famílias há desempregados. As pessoas têm que viver quase sem dinheiro! E os preços não param de subir… Não sei o que vai ser da minha vida daqui a alguns meses se não arranjar trabalho! Queria apenas que os políticos vivessem uns meses… não, até bastava um mês, com este dinheiro! De certo, falariam de forma diferente quando falam de desemprego! As pessoas para eles são números… Prometem muito para lá chegar e quando lá chegam nada fazem! São todos iguais…

José, que planos tem para os próximos tempos?

Se não conseguir arranjar emprego nos próximos 2 ou 3 meses, acho que vou trabalhar para o estrangeiro. Não tenho dinheiro suficiente para me mudar com a família toda, por isso vou sou. Trabalho uns anitos e depois volto, quando as coisas estiverem melhor por cá!

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